fbpx

Lorenna Barcelos Books

O coração de nanquim, de Robert Galbraith

resenha O coração de nanquim

Seu único motivo para não ler O coração de nanquim, sexto livro da série Cormoran Strike, talvez seja o que eu cometi: não tem data de lançamento da continuação, e quando terminei a leitura só precisava continuar no mundinho de Strike e Robin.

ATENÇÃO: pode conter spoiler do livro anterior!

O coração de nanquim é o melhor de toda a série, até agora. Enquanto Sangue Revolto deixou um pouco a desejar no quesito investigação – ficou tudo muito no ar, a meu ver e o desfecho para a conclusão só aconteceu na cabeça do Strike! – essa história segue uma uma linha de investigação bem linear, com pistas sólidas e impossível de largar desde o primeiro capítulo.

A história começa no ponto exato onde parou Sangue Revolto, em um capítulo de abertura excelente. Robin e Strike estão meio sem graça do clima que rolou entre os dois no aniversário dela; não é nem falta de comunicação, o único problema é que a agência tem que vir em primeiro lugar.

Os dois estão bem resolvidos quanto a isso, mas incapazes de abafar os sentimentos por muito tempo. Strike então logo trata de arranjar uma namorada, até agora a que mais curti, Madeline.

Robin, enquanto isso fica na dela, dando o sangue no trabalho. Compra um apartamento e se muda, por que a casa que ela dividia com um amigo ficou pequena demais.

strike e robin

"Na verdade, o motivo para Strike ter ido embora de forma tão precipitada era que, depois de quase meia garrafa de Macallan de estômago vazio, ele achou melhor ficar o mais longe possível de Robin. Com seu rosto sem maquiagem, seu sorriso doce e nitidamente limpa em seu pijama e roupão, conversando com inteligência sobre o caso e expressando compaixão por crianças que não conhecia, ela não podia representar um contraste maior com Charlotte. Strike temia perder o controle — não uma investida física desajeitada, embora com muito mais Macallan isso poderia se tornar um risco —, mas ceder à tentação de falar coisas pessoais demais, de dizer demais, enquanto os dois estavam sentados na mesma cama, em um convidativo quarto anônimo de hotel."

Em meio a esses dilemas pessoais, enfrentando assuntos e problemas do cotidiano, a agência segue em alta. São necessários mais funcionários e a o ambiente de trabalho não poderia ser melhor. Destaque para Pat, a secretária, que é cada vez mais parte do escritório.

Pela primeira vez a agência vai lidar com o caso de crime cibernético, algo inédito para eles. Mas até agora, esse é o melhor “conflito” e também o que mais se desenvolve. O foco está mais no caso do que na agência e problemas pessoais (como em Sangue Revolto) e a similaridade com o real, trolls da internet, ataques no Twitter e pessoas atrás de fake, tudo isso paralelo ao jogo… Já que a investigação começa devido ao assassinato de uma artista.

O coração de nanquim é um desenho que ficou muito famoso na internet, e seus criadores Eddie Ledwell e Josh Blay, um casal, começou a discordar em algum momento. Mesmo assim tudo ia muito bem, até os fãs passarem dos limites e começarem a atacar a desenhista de maneira a levá-la ao limite, a ponto de escalonar para a vida fora das telas e culminar no assassinato de Eddie e seu ex-namorado Josh gravemente ferido.

Usando um pano de fundo bem atual sobre ataques na Internet, o ódio do Twitter e como isso pode levar as pessoas ao limite, não da pra não comparar com a experiência da autora.

Mas a perícia demonstrada na narrativa, toda a técnica pra saber como atuam essas pessoas na rede e quais suas motivações pessoais ou (falta delas) vem com um certo tom pessoal que a meu ver mostra o quanto ela é segura com os ataques que sofre, sabe lidar com eles e na história isso fica por conta de Strike não poder ligar MENOS pra coisas que acontecem no Twitter, até por ser mais velho, enquanto Robin é um pouco mais antenada, e os adolescentes se perdem em uma loucura, chegando a cometer atrocidades como o personagem de um YouTuber, que chega a entrar em um grupo extremista.

No livro também vamos ver o quão vulneráveis podemos estar na internet, a mercê de seitas, pedófilos e pessoas realmente “peixe grande”. Isso chegou a me chocar um pouco, confesso que não imaginava que era pra tanto.

A história é fascinante, um vira página, segurou bem o mistério de quem era Anomia, já que a agência precisa investigar quem é a pessoa suspeita de ter começado os ataques e se é a mesma que cometeu o crime.

Volto a dizer que acho que a autora se valeu muito da experiência pessoal, com certeza fica difícil separar, já que a mesma tanto sofre quanto promove ataques no Twitter. Mas é assustador ver como as pessoas se comportam quando há ausência de limite, como os grupos fazem para recrutar, e a coragem de certas pessoas que acham que estão seguras e livres para falar atrocidades usando codinomes online.

Entre ataques no Twitter, campanhas de ódio e um submundo de blogs anônimos e organizações nazistas e terroristas bem pesadas, por sinal, que querem recrutar pessoas a Robin entra no jogo conseguindo um falso login e os dois embarcam na investigação mais difícil até agora.

Os últimos momentos são de pura tensão, culminando com Strike sendo internado para se recuperar, já que foi esfaqueada. Robin mais uma vez provou que é uma detetive excepcional, quase carregando o caso nas costas. Seu parceiro enfrentou terríveis problemas do meio do livro para o fim. Strike começa a perceber que sua saúde não anda tão boa e a sócia carregou tudo nas costas. Não posso negar, eu amo a Robin.

"(...) essa era a primeira vez que ele a via como uma verdadeira sócia, uma igual. Ela conseguira a entrevista por meio da própria engenhosidade, assumira o controle de como a entrevista devia se desenrolar, dizendo-lhe, em essência, que ele não era necessário ali. Ele não ficou aborrecido; pelo contrário, estava quase se divertindo por ser relegado ao papel de esperar a uma mesa redonda no café arejado que dava para os vastos gramados do Meanwood Park."

Posso garantir que você não vai sentir as mais de 900 páginas, a escrita é deliciosa, o mistério te leva a querer se embrenhar cada vez mais nesse sombrio mundo da internet e a única coisa ruim é que a que eu já mencionei, terminar sem ter o próximo.

Robert Galbraith Cormoran Strike livro 6

Sinopse:

Quando a frenética e desgrenhada Edie Ledwell aparece no escritório implorando por ajuda, a detetive particular Robin Ellacott não sabe muito bem como lidar com a situação.

Cocriadora de um popular desenho animado ― O coração de nanquim ―, Edie está sendo perseguida virtualmente por uma misteriosa figura que atende pelo pseudônimo Anomia e, em desespero, pede que a detetive descubra a verdadeira identidade de seu stalker.

Robin encerra o encontro informando que sua agência não está habilitada a resolver casos desse tipo. Após indicar alguns concorrentes à mulher, Robin não pensa mais no assunto… Isso até, dias depois, ela ler a notícia chocante de que Edie foi assassinada a facadas no cemitério de Highgate, o cenário onde se passa a animação.

A partir daí, Robin e seu sócio, Cormoran Strike, sentem-se instigados e aceitam sair em busca da identidade de Anomia. Porém, confrontados com uma rede complexa de usuários virtuais anônimos, interesses contraditórios e conflitos familiares que precisam navegar, Strike e Ellacott se veem envolvidos em um caso que leva seus poderes de dedução ao limite e que os ameaça de formas novas e horripilantes.

Um mistério diabolicamente inteligente, O coração de nanquim é um verdadeiro tour de force para a famosa dupla de detetives, que não para de impressionar os leitores com o sucesso de sua atuação investigativa.

Ficha técnica:

O coração de nanquim resenha

Título: O coração de nanquim
Título original: The Ink Black Heart
Autor (a): Robert Galbraith
Editora: Rocco
Número de Páginas: 1024
Ano de Publicação: 2023
Compre o livro: Amazon

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *