O livro Belo Mundo, onde você está pode ser uma história que vai te deixar pra baixo em alguns momentos. Leitores que estão acostumados com a escrita de Sally Rooney, e inclusive já leram outros livros da autora, sabe que ela costuma ser brutal no que se trata de sentimentos. Esteja avisada…
A maioria das pessoas com trinta e poucos anos chega em um momento desesperador de se questionar sobre a maioria das coisas que acontecem em seu dia a dia. Sim, me incluo nessa. Aquele momento de angústia onde tudo está desmoronando, mas você precisa levantar e ir trabalhar. Ou quando se depara com um conhecido na rua e precisa sorrir e jogar conversa fora, mesmo querendo um pouco de um papo mais profundo pra saber se aquela pessoa te entende.
A maioria das pessoas com trinta e poucos anos chega em um momento desesperador de se questionar sobre a maioria das coisas que acontecem em seu dia a dia. Sim, me incluo nessa. Aquele momento de angústia onde tudo está desmoronando, mas você precisa levantar e ir trabalhar. Ou quando se depara com um conhecido na rua e precisa sorrir e jogar conversa fora, mesmo querendo um pouco de um papo mais profundo pra saber se aquela pessoa te entende.
Aliás, alguém te entende? Você se entende? Bom, você tem tempo pra pensar nisso agora? Esse é Belo mundo, onde você está. Nessa história não temos grandes reviravoltas ou amor não correspondido, que no final se transforma em um grande mal entendido e os personagens terminam felizes para sempre. Ao contrário, essa história te faz encarar o grande buraco negro que é a vida de pessoas adultas normais, tendo que lidar que com questionamentos, inseguranças, relacionamentos, trabalho, e tudo o que mais que vem nesse pacote.
A autora sabe descrever esses sentimentos de uma maneira que parece que está acessando todos os seus pensamentos, e mais, misturando tudo isso ao cotidiano de forma que você nem vê a história passar. Digamos que a narrativa é linear, mas não te leva para um ponto específico, por que assim é a vida, você não sabe o que vai acontecer no futuro, nem minutos a frente.
Isso me deixou embasbacada (mais uma vez), a forma como a autora consegue acrescentar coisas de tanto peso em um único parágrafo e fazer parecer ao leitor que o ato foi executado bem do seu lado. É como ouvir a conversa de alguém enquanto passa pelo corredor, ter um pensamento sobre aquilo, pra em seguida desbloquear o celular, ler uma mensagem e logo esquecer do que ouviu, focando em outro problema.
“Pensando em como éramos ao nos conhecermos, acho que não estávamos erradas quanto a nada, a não ser nós mesmas. As ideias eram corretas, mas o erro foi acharmos que tínhamos importância. Bom, esse engano nos foi arrebatado de formas diferentes — eu ao não realizar absolutamente nada em mais de uma década de vida adulta, você (me perdoe) ao realizar tudo o que era possível e ainda assim não fazer nem um pingo de diferença para o funcionamento suave do sistema capitalista.”
página 207
Quantos aos personagens, a história vai focar muito mais nos vários tipos de relacionamentos do que só romance romântico. Temos a amizade de Eileen e Alice; a última é uma escritora bem sucedida, com algumas questões psicológicas, já Eilleen está completamente sem rumo e nunca conseguiu entender direito seus sentimentos pelo amigo de ambas, Simon. Também vamos conhecer Félix, que a meu ver é um homem medíocre e totalmente abaixo da média que cruza o caminho de Alice.
Alice mora em uma cidade diferente dos dois amigos e tenta lidar com a nova vida um dia de cada vez. É dela que vem a maior parte dos questionamentos mais revoltados, já que as duas conversam muito mais por e-mail. Uma personagem com a qual eu me identifiquei demais e tive a sensação de que parte da história dela não veio a tona por ser esse o objetivo do livro: por mais que tenhamos traumas e problemas, precisamos seguir em frente e a maioria das pessoas realmente não se importa.
“E era mais fácil e mais seguro continuar em uma situação ruim do que me responsabilizar por sair dela. Talvez, talvez. Não sei. Digo a mim mesma que quero ter uma vida feliz, e que as circunstâncias para essa felicidade simplesmente ainda não surgiram. Mas e se não for verdade? E se sou eu que não me permito ser feliz? Porque tenho medo, ou prefiro chafurdar na autocomiseração, ou não acredito merecer coisas boas, ou alguma outra razão. Sempre que algo de bom acontece comigo me pego pensando quanto tempo será que vai demorar para a situação degringolar. E praticamente quero que o pior aconteça logo, rápido, e se possível imediatamente, assim pelo menos não preciso mais ficar ansiosa.”
página 210
Em alguns momentos a narrativa nos deixa muito pra baixo, motivo pelo qual não conseguia ler por tanto tempo direto. É realmente o tipo de livro que te faz refletir e questionar por longos minutos. Por isso também receio que não vá agradar a todo mundo, principalmente leitores com pouca vivência em questões mais adultas ou que não querem confrontar esse lado da vida. Afinal, as vezes a gente lê pra escapar da realidade, e Belo mundo, onde você está trás muito da realidade, desse real questionamento de onde estão as coisas boas da vida? É só isso?
Tinha muita expectativa para o livro e fico feliz em dizer que ultrapassou o que esperava. Após ter lido Pessoas Normais eu queria encontrar mais desse lado real, de frustração e coisas que não dão certo, aliás, é um favorito meu.
Comparando com Pessoas Normais, que vai mais para o lado de sentimentos de amor e romance entre os dois personagens, nele eu consegui entrar na história e ficar por horas lendo. Coisa que não deu com Belo mundo, justamente pelo fato de que com Conel e Marianne era fácil dar pitaco na vida de ambos, já em Belo mundo eu entrava em conflito comigo mesma, por que que muitas vezes temos mais perguntas do que respostas. Está aí a grande sacada da Sally, o livro te cutuca, te oprime e nos faz olhar para coisas que nem sempre estamos com vontade.
Minha nota, claro, foi 5 estrelas. Só não favoritei por que dificilmente vou querer entrar em contato com esses sentimentos tão cedo. Mas indico o livro e se tornou um queridinho, claro, vou guardar a história no coração e já me sinto pronta para mais histórias da autora.
Sinopse:
Alice conhece Felix pelo Tinder. Ela é romancista, ele trabalha num armazém nos subúrbios de uma pequena cidade costeira da Irlanda. No primeiro encontro, enquanto os dois tentam impressionar, a fagulha de algo mais aparece.
Em Dublin, Eileen está tentando superar o término de seu último relacionamento enquanto precisa lidar com a falta da melhor amiga, que se mudou para o litoral. Ela acaba voltando a flertar com Simon, um homem mais velho que acompanha sua vida há tempos.
Alice, Felix, Eileen e Simon ainda são jovens, mas sentem cada vez mais a pressão do passar dos anos. Eles se desejam, se iludem, se amam e se separam. Eles se preocupam com sexo, com amizade, com os rumos do planeta e com o próprio futuro. Seriam eles as últimas testemunhas do ocaso? Eles vão conseguir encontrar uma forma de viver mais uma vez em um belo mundo?
Com uma prosa única e brutal, Sally Rooney constrói mais um romance inigualável sobre o que significa amadurecer sem deixar a si mesmo para trás.
Uma das vozes mais originais da ficção contemporânea, Sally Rooney escreve sobre amizade, amor e dúvida em seu terceiro romance.
“O fenômeno literário da década.” ― The Guardian
Assista ao vídeo onde leio alguns trechos do livro Belo mundo, onde você está (sem spoiler)
Ficha técnica:
Título: Belo mundo, onde você está
Título original: Beautiful World, Where Are You
Autor (a): Sally Rooney
Editora:Companhia das Letras
Número de Páginas: 352
Ano de Publicação: 2021
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