Harry Potter e o Cálice de Fogo sempre foi o meu livro favorito – até agora. Depois dessa releitura tive algumas mudanças nas percepções, e ainda continuo amando essa história, mas ele desceu uma posição no meu TOP. Diria que está em segundo lugar, mas tudo pode acontecer.
Em O Cálice de Fogo, Hogwarts vai sediar o Torneio Tribuxo, que conta com a participação de mais 2 escolas bruxas, onde um escolhido de cada escola vai competir em tarefas mágicas e o vencedor ganha um prêmio e “honra” para sua escola.
Ação e novas informações desde o primeiro capítulo
Esse é o primeiro da saga que não começa na casa dos Dursley. Particularmente eu adoro os inícios na casa dos tios do Harry. O primeiro capítulo de A Pedra Filosofal é um dos mais bem escritos que eu já li na vida, e acho que começar na casa dos tios desde o 1° livro é uma sacada ótima. Sempre faz um contraponto entre mundo da magia e o mundo real e o quão torturante é para o Harry.
Mas desta vez, começar o livro com um ponto de vista totalmente novo fez muito sentido. São personagens e um lugar desconhecido que dão o tom de que ainda teremos muita coisa por vir e que dessa vez é diferente.
Além do mais, após esse primeiro capítulo eles não vão diretamente para a escola, o que quebra o “ciclo” dos três primeiros livros Casa dos tios > Trem para a Escola > Aventura > Desfecho.
Aqui no Cálice de Fogo temos o evento da Copa Mundial de Quadribol, onde há o ataque dos Comensais da Morte e onde o perigo é real, pela primeira vez, fora da escola. Isso, para mim, dá um tom de que fora dos portões de Hogwarts o mundo da magia está a todo vapor e ele não está imune aos perigos reais que esse mundo oferece.
A atmosfera muda no início desse livro. Não conhecíamos sobre Comensais da Morte, não sabíamos muito do trabalho do Arthur no Ministério e nem tínhamos a participação ativa do Ministro da Magia, e tudo isso já acontece nos primeiros capítulos.
E depois, quando eles chegam na escola, acho que foi onde o livro perdeu um pouco do ritmo.
As tarefas foram muitos espaçadas – claro, para durar durante todo o ano letivo. Mas, o Torneio foi pintado como muito perigoso e mortal (e de fato temos uma morte, mas não diretamente por causa do Torneio). Mas isso não quer dizer que as cenas não são bem escritas, só acho que faltou emoção. A que mais me empolgou foi a do dragão. O lago e o labirinto foram bem fáceis e com poucos obstáculos.
Mas enquanto o Torneio acontece tem “coisas” acontecendo a todo momento, que pesam a atmosfera e faz as tarefas ficarem em “segundo plano”, dando equilíbrio para o ritmo da história.
A primeira paquera a gente nunca esquece
Harry Potter está com os sentimentos a flor da pele nesse livro. É interessante acompanhar desde o segundo capítulo, quando ele acorda com a cicatriz doendo, e manifesta pela primeira vez o desejo de ter os pais vivos para que pudesse consultá-los sobre um problema sério que eles está enfrentando.
Fora isso, é a primeira vez que o trio manifesta interesses românticos e que são condizentes com as suas idades. É fofo e ao mesmo tempo a gente sente que deveria mesmo estar acontecendo, afinal não é só porque são bruxos que não tem sentimentos! A ruptura entre Rony e Harry, as preocupações do próprio Harry com relação ao torneio e a batalha interna do Rony estão presentes no livro todo.
E claro, a paixonite do Harry por Cho Chang. Acho um casal bem sem sal, mas precisava acontecer.
Ainda sobre Harry Potter, o que eu acho mais legal de acompanhar é que ele não é um personagem que consegue resolver tudo porque é “fodão”. Ao contrário disso, ele só tem coragem. Mas inteligência e astúcia passam longe. É o que faz com que ele se torne mais real ainda, pois, ao invés de cair uma solução do céu é sempre uma combinação de fatores que faz com que ele saia das situações – uma boa ajuda dos amigos e de magia.
“– Bom, eu não vou lhe dizer – afirmou o professor com rispidez –, não demonstro favoritismos, eu. Mas vou lhe dar uns bons conselhos de ordem geral. O primeiro é: explore seus pontos fortes.
– Não tenho pontos fortes – disse Harry antes que pudesse se conter.”
Página 253
Essa cena eu acho muito interessante (e engraçada), o humor ácido do Harry é o que me faz gostar muito dele. Mas nem ele se considera interessante ou diferente das outras pessoas só por ser o Harry, o garoto que sobreviveu.
Muitos momentos emocionantes
A atmosfera de um caos que está prestes a acontecer fica durante o livro todo e eu bato nessa tecla sempre. É por isso que O Cálice de Fogo traz muitos momentos emocionantes que não estão presentes nos 3 primeiros.
Já falei sobre as emoções afloradas do Harry, mas a falta de familiares incomoda muito ele, e somos lembrados de que ele não tem pais em várias partes. Entre elas, quando a senhora Weasley faz as vezes de família durante a última tarefa, quando o visita antes da prova do labirinto e quando o consola durante uma explosão de choro na ala hospitalar.
Destaque também para a cena do baile, quando Hermione sabiamente lembra a Rony que ela é uma garota e que deveria ser considerada como primeira opção e não a última.
O bruxo mais talentoso de todos os tempos finalmente dá as caras
Eu adoro o professor Dumbledore, mas tirando algumas frases de efeito dos livros anteriores, aqui em O Cálice de Fogo é que conseguimos vê-lo em ação de verdade. Fiz questão de destacar esse trecho para falar disso e comentar dois momentos em que senti que ele de fato era o bruxo extraordinário que tanto se falou anteriormente:
A cena em que ele descobre que Olho Tonto Moody era na verdade Barto Crouch Junior – mas vem cá, como ele não percebeu antes, né? Papo para outras teorias…
E em uma das cenas finais quando ele começa a agir rapidamente, já convocando a Ordem da Fênix. Isso me deixou emocionada e involuntariamente pensei na situação do nosso país quando o “presidente” estava prestes a ganhar a eleição. Seria necessário um líder como o Dumbledore, que ao invés de ficar discutindo soluções ou tentando convencer o Ministro da Magia, ou brigando, foi logo para a ação e tratou de juntar as pessoas para combater a ameaça.
“– Seremos tão fortes quando formos unidos e tão fracos quanto formos desunidos. O talento de Lorde Voldemort para disseminar a desarmonia e a inimizade é muito grande. Só podemos combatê-lo mostrando uma ligação igualmente forte de amizade e confiança. As diferenças de costumes e língua não significam nada se os nossos objetivos forem os mesmos e os nossos corações forem receptivos” Página 527
Harry Potter e Quando o Bicho começa a pegar de verdade…
O nome do último capítulo desse livro é O COMEÇO, e o que eu quis dizer com essa brincadeira de “quando o bicho começa a pegar” é que sinto que a partir do Cálice do Fogo fechou-se um ciclo de Harry e Potter e seus amigos enfrentando aventuras para enfrentar uma ameaça real. Chegou a vez de tirarmos a prova se Harry Potter é realmente o garoto que sobreviveu e se poderá enfrentar Voldemort de novo, ou se o mundo da magia será quase destruído novamente. E isso é muita responsabilidade em cima de um garoto. Não é a toa que a última frase do livro é do Harry pensando em quando terá que começar a se preocupar.
O Cálice de Fogo tem muita emoção, muita informação nova e é um divisor de águas na saga de Harry Potter.
Comentários extras e sobre o filme
Dois conceitos que acho muito interessantes e que foram criados pela autora é o da Penseira e das Maldições Imperdoáveis.
O da Penseira é bem simples, mas eu simplesmente vivo preocupada e minha mente é um turbilhão. Seria ótimo se eu pudesse apenas tirar alguns pensamentos da cabeça e acessar eles quando quisesse, não é?
E sobre as Maldições Imperdoáveis, no capítulo de mesmo nome, o professor ensina que para lançar essas maldições é preciso QUERER. Quer dizer que eu posso ter uma arma agora comigo mas não vou atirar em ninguém, a não ser que eu já esteja predisposta a matar alguém. O mesmo seria se o Harry tivesse uma varinha e tentasse lançar um Avada Kedavra. Achei simples e muito inteligente.
Sobre a escrita da J.K Rowling, nos dois primeiros parece que a autora ainda estava se situando, mas do 3° para o 4° é incrível e nítida a evolução.
Já está TUDO amarrado, não tem ponto sem nó. Desde o desaparecimento de Berta Jorkins no início, até em coisas que acontecem só no livro (Enigma do Príncipe). Todos os capítulos são super bem estruturados e seguem uma linha que vai sendo muito bem trabalhada, com relação a sentimentos, acontecimentos, até o timing de quando o Rony volta a falar com o Harry e assim fazer parte novamente da história, é tudo amarrado e o leitor consegue sentir que a historia foi bem pensada.
Sobre o filme acho que faltou emoção. A Câmara Secreta continua sendo o melhor, por ser o mais fiel (até agora, com relação a eu estar revendo). Sei que estenderia muito, mas acho que ao menos a cozinha dos Elfos deveria ter aparecido e Azkaban, com a história do Barto Jr. sendo resgatado pela mãe.
OBS: três cenas que eu adoro, e não apareceram no filme. 1 – um jantar na casa dos Weasley com todos reunidos 2 – o trio descobrindo aonde fica a cozinha de Hogwarts, 3 – eles conversando com os elfos e consolando a Winky * imagens retiradas do Pinterest
O veredito
Eu só falei bem do livro e mesmo assim ele desceu no pódio… Isso é por que eu sei que na Ordem da Fênix as coisas já começam a ficar mais sérias e mais políticas. Não é só mais uma aventura do Harry, agora envolve todo o mundo da magia, tem uma ameaça a ser combatida que vai definir todos os outros livros. O Harry vai se tornar quase um adulto e os sentimentos dele vão ficar mais aflorados, assim como o de todos.
E o Torneio Tribuxo não é bem o ponto central da narrativa, o que deixou a desejar nas cenas das tarefas mas não prejudicou em nada o ritmo. Então por isso, O Cálice de Fogo desce uma posição e cede lugar á Ordem da Fênix. Mas continua dentro do meu coração como o divisor de águas entre aventuras e ameaça real!
Ficha técnica:
Título: Harry Potter e o Cálice de Fogo – traduzido por Lia Wyler
Título original: Harry Potter and the Globet of Fire
Autora: J.K Rowling
Editora: Rocco
Número de Páginas: 535
Ano de Publicação: 2000 | Brasil: 2001
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