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Lorenna Barcelos Books

Epílogo do livro A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, prequel de Jogos Vorazes

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A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes responde muitas questões que precedem ao início da trilogia Jogos Vorazes. Como os Jogos Vorazes foram criados? Como Snow virou presidente? E muitas outras dúvidas dos fãs.

No meu canal fiz a semana Happy Hunger Games, onde conversamos exaustivamente sobre toda a trilogia, a criação de Panem, quem venceu os Jogos Vorazes, se Katniss Everdeen de fato teve um final feliz. Enfim, esse post será atualizado em breve!

Mas se você quiser ler o epílogo pra entender como o presidente Snow “terminou”, ou como começou o legado no final de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, esse é o epílogo do livro.

A adaptação do filme estreia dia 15 de novembro de 2023.

EPÍLOGO

Em uma tarde brilhante de outubro no meio do semestre de outono, Snow desceu a escada de
mármore do Centro de Ciências da Universidade, ignorando modestamente as cabeças se
virando. Ele estava lindo com o terno novo, principalmente após o retorno dos cachos, e sua
experiência como Pacificador tinha lhe dado certo prestígio que deixava seus rivais
enlouquecidos.

Ele tinha acabado uma aula para alunos especiais sobre estratégia militar com a dra. Gaul
depois de uma manhã na Cidadela, onde tinha se apresentado para o estágio de Idealizador dos
Jogos. Podia ser chamado assim, mas os outros o tratavam como integrante da equipe. Eles já
estavam trabalhando em ideias para envolver os distritos, assim como a Capital, nos Jogos
Vorazes do ano seguinte. Foi Snow quem observou que, exceto por dois tributos que talvez nem
conhecessem, as pessoas dos distritos não tinham qualquer envolvimento com os Jogos. A vitória
de um tributo precisava ser uma vitória para o distrito todo. Eles tiveram a ideia de que todo
mundo no distrito receberia um pacote de alimentos se seu tributo levasse a coroa. E para atrair
uma classe melhor de tributos para talvez se voluntariar, Snow sugeriu que o vitorioso devia
ganhar uma casa numa área especial da cidade, temporariamente chamada de Aldeia dos
Vitoriosos, que seria a inveja de todas as pessoas que moravam em casebres. Isso e um prêmio
em dinheiro deviam ajudar a reunir um grupo decente de tributos.

Seus dedos acariciaram a bolsa de couro macia, um presente de volta às aulas dos Plinth. Ele
ainda não sabia bem como chamá-los. “Mãezinha” era bem fácil, mas não era adequado chamar
Strabo Plinth de pai, então ele usava muito a palavra “senhor”. Eles não o tinham adotado; ele
era velho demais, com dezoito anos. Ser designado herdeiro era melhor para ele, de qualquer
modo. Ele jamais abriria mão do nome Snow, nem por um império de munições.

Tudo aconteceu muito naturalmente. Sua volta para casa. A dor deles. A união das famílias. A
morte de Sejanus destruiu os Plinth. Strabo falou com simplicidade:
– Minha esposa precisa de alguma coisa como motivação para viver. Eu também. Você
perdeu seus pais. Nós perdemos nosso filho. Eu estava pensando em resolvermos isso de alguma
forma.
Ele comprou o apartamento dos Snow para eles não precisarem se mudar e o dos Dolittle,
embaixo, para ele e Mãezinha. Houve uma conversa sobre reforma, sobre construir uma escada
em espiral e talvez um elevador particular para conectar os dois apartamentos, mas não havia
pressa. A sra. Plinth já ia lá todos os dias ajudar a avó de Coriolanus, que tinha se resignado a ter
uma nova “empregada”, e ela e Tigris se deram muito bem. Os Plinth pagavam tudo agora: os
impostos do apartamento, a mensalidade dele, a cozinheira. Também davam a ele uma mesada
generosa. Isso era bom porque, apesar de ele ter interceptado e ficado com o dinheiro do
envelope que tinha enviado para Tigris do Distrito 12, a vida universitária era cara quando vivida
da forma certa. Strabo nunca questionava seus gastos e nem criticava as poucas aquisições no
guarda-roupa, e parecia satisfeito quando Snow pedia conselhos. Eles eram surpreendentemente
compatíveis. Às vezes, ele quase esquecia que o velho Plinth era de distrito. Quase.
Naquela noite seria o décimo nono aniversário de Sejanus e eles se reuniram para um jantar
em lembrança a ele. Snow tinha convidado Festus e Lysistrata para se juntarem ao grupo, pois
eles gostavam mais de Sejanus do que a maioria dos colegas e certamente diriam coisas gentis.
Ele planejava entregar aos Plinth a caixa do armário de Sejanus, mas primeiro tinha mais uma
coisa a fazer.

O ar fresco na caminhada até a Academia deixou sua mente apurada. Ele não tinha nem
marcado horário, preferiu aparecer de surpresa. Os alunos tinham saído uma hora antes, e seus
passos ecoaram nos corredores. A mesa da secretária do reitor Highbottom estava vazia, e ele foi
até a sala e bateu na porta. O reitor Highbottom o mandou entrar. Com a perda de peso e os
tremores, ele estava com uma aparência pior do que nunca, curvado sobre a mesa.

– Ora, a que devo essa honra? – perguntou ele.
– Eu gostaria de recuperar o estojo de pó compacto da minha mãe, já que você não precisa
mais dele – respondeu Snow.
O reitor Highbottom enfiou a mão numa gaveta e botou o estojo na mesa.
– Isso é tudo?
– Não. – Ele tirou a caixa de Sejanus da bolsa. – Vou devolver os itens pessoais de Sejanus
para os pais dele hoje. Não sei bem o que fazer com isso. – Ele esvaziou o conteúdo da caixa na
mesa e pegou o diploma emoldurado. – Achei que você não ia querer isto aqui na casa deles. Um
diploma da Academia. Concedido a um traidor.
– Você é muito prestativo – disse o reitor Highbottom.
– Foi meu treinamento como Pacificador. – Snow soltou a parte de trás da moldura e tirou o
diploma. Em seguida, como se de impulso, botou uma foto da família Plinth no lugar. – Acho
que os pais dele vão preferir assim. – Os dois olharam o que tinha restado da família de Sejanus.
E ele jogou os três frascos de remédio na lata de lixo do reitor Highbottom. – Quanto menos
lembranças ruins, melhor.

O reitor Highbottom olhou para Coriolanus.
– Não me diga que você arranjou um coração nos distritos.
– Não nos distritos. Nos Jogos Vorazes – corrigiu Snow. – Preciso agradecer a você por isso.
Afinal, foi você quem inventou os Jogos.
– Ah, acho que metade do crédito vai para o seu pai – disse o reitor.
Snow franziu a testa.
– Como assim? Achei que os Jogos Vorazes tinham sido ideia sua. Uma coisa que você
pensou na Universidade.
– Na aula da dra. Gaul. E eu ia ser reprovado, porque minha repulsa por ela tornava
impossível a minha participação. Nós fizemos duplas para o projeto final e fiquei com meu
melhor amigo… Crassus, claro. A tarefa era criar uma punição tão extrema para seus inimigos
que eles jamais conseguiriam esquecer o quanto tinham feito mal a você. Era como uma charada, em que eu sou ótimo, e como todas as boas criações, absurdamente simples em essência. Os Jogos Vorazes. O impulso mais cruel, inteligentemente formatado como um evento esportivo.
Um entretenimento. Eu estava bêbado e seu pai me deixou mais bêbado ainda, ficou alimentando
minha vaidade enquanto eu elaborava a ideia toda, me garantindo que era só uma brincadeira
entre nós. Na manhã seguinte, acordei horrorizado com o que tinha feito, querendo rasgar o papel
em pedacinhos, mas era tarde demais. Sem a minha permissão, seu pai entregou o trabalho pra
dra. Gaul. Ele queria a nota, sabe. Eu nunca o perdoei.

– Ele está morto – disse Snow.
– Mas ela não está – respondeu o reitor Highbottom. – Não era pra ser algo mais do que
teórico. E quem além do monstro mais cruel tornaria aquilo realidade? Depois da guerra, ela
pegou minha proposta e me levou junto, e me apresentou para Panem como arquiteto dos Jogos
Vorazes. Naquela noite, experimentei morfináceo pela primeira vez. Achei que a coisa ia passar,
de tão horrível que era. Não passou. A dra. Gaul tirou os Jogos do papel e me arrasta junto há
dez anos.
– Sem dúvida, sustenta a visão dela da humanidade – disse Snow. – Principalmente por usar
crianças.
– E por quê? – perguntou o reitor Highbottom.
– Porque atribuímos inocência a elas. E se mesmo os mais inocentes viram assassinos nos
Jogos Vorazes, o que isso representa? Que nossa natureza essencial é violenta – explicou Snow.
– Autodestrutiva – murmurou o reitor Highbottom.
Snow se lembrou do relato de Pluribus sobre a briga do pai dele com o reitor Highbottom e
citou a carta.
– Como mariposas pelo fogo. – O reitor apertou os olhos, mas Snow só sorriu. – Mas, claro,
você está me testando. Você a conhece bem melhor do que eu.
– Não tenho tanta certeza. – O reitor Highbottom passou o dedo na rosa de prata no estojo de
pó compacto. – O que ela disse quando você contou que ia embora?
– A dra. Gaul? – perguntou Snow.
– A sua passarinha canora – disse o reitor. – Quando você foi embora do 12. Ela ficou triste
de te ver partir?
– Acho que ambos ficamos um pouco tristes. – Snow guardou o estojo de pó compacto e
pegou as coisas de Sejanus. – É melhor eu ir. Vamos receber móveis novos pra sala e prometi à
minha prima que estaria lá pra supervisionar os entregadores.
– É melhor você ir mesmo – disse o reitor Highbottom. – De volta à cobertura.

Snow não queria falar sobre Lucy Gray com ninguém, principalmente o reitor Highbottom.
Sorriso tinha lhe enviado uma carta, para o antigo endereço dos Plinth, citando o
desaparecimento dela. Todo mundo achou que o prefeito a tinha matado, mas não tinham como
provar. Quanto ao Bando, um novo comandante tinha substituído Hoff, e sua primeira decisão
foi proibir shows no Prego, porque música sempre criava problemas.
Sim, pensou Snow. Sem dúvida.

O destino de Lucy Gray era um mistério, então, assim como o da garotinha que tinha o
mesmo nome que ela, a daquela música irritante. Ela estava viva, morta, era um fantasma que
assombrava a floresta? Talvez ninguém nunca realmente fosse saber. Não importava: a neve
representou o fim de ambas. Pobre Lucy Gray. Pobre garota fantasma cantando com seus
pássaros.

Você vem, você vem
Para a árvore
Onde eu mandei você fugir para nós dois
ficarmos livres.

Ela podia voar o quanto quisesse em volta do Distrito 12, mas ela e seus tordos jamais
poderiam voltar a fazer mal a ele.
Às vezes, ele se lembrava de um momento de doçura e quase desejava que as coisas tivessem
terminado diferentes. Mas jamais teria dado certo entre os dois, mesmo que ele tivesse ficado.
Eles eram diferentes demais. E ele não gostava do amor, do jeito como o fazia se sentir burro e
vulnerável. Se um dia se casasse, ele escolheria alguém incapaz de balançar seu coração. Alguém que odiasse, até, para que nunca pudesse manipulá-lo da forma como Lucy Gray tinha feito. Para que nunca pudesse deixá-lo com ciúmes. Nem torná-lo fraco. Livia Cardew seria perfeita. Ele imaginou os dois, o presidente e sua primeira-dama, celebrando os Jogos Vorazes em alguns anos. Ele continuaria os Jogos, claro, quando governasse Panem. As pessoas o chamariam de tirano, punho de ferro e cruel. Mas pelo menos ele garantiria a sobrevivência pela sobrevivência, dando a eles a chance de evoluírem. O que mais a humanidade poderia desejar? De verdade,
deviam agradecer a ele.

Ele passou pela casa noturna de Pluribus e se permitiu abrir um sorrisinho. Dava para
conseguir veneno de rato em vários lugares, mas ele tinha pegado um pouco discretamente na
viela dos fundos na semana anterior e levado para casa. Foi complicado botar no frasco de
morfináceo, principalmente usando luvas, mas ele acabou colocando o que considerava uma dose suficiente pela abertura. Ele tomou a precaução de deixar o frasco bem limpo. Não havia nada que pudesse fazer o reitor Highbottom desconfiar quando o tirasse do lixo e enfiasse no bolso.

Nada a desconfiar quando desenroscasse o conta-gotas e pingasse o morfináceo na língua.
Apesar de torcer para que, quando desse o último suspiro, o reitor percebesse o que tantos outros
perceberam quando o desafiaram. O que toda Panem saberia um dia. O que era inevitável.
Snow cai como a neve, sempre por cima de tudo.

FIM

Sinopse:

UMA HISTÓRIA DA SÉRIE JOGOS VORAZES. AMBIÇÃO O ALIMENTARÁ. COMPETIÇÃO O CONDUZIRÁ. MAS O PODER TEM O SEU PREÇO

É a manhã do dia da colheita que iniciará a décima edição dos Jogos Vorazes. Na Capital, o jovem de dezoito anos Coriolanus Snow se prepara para sua oportunidade de glória como um mentor dos Jogos. A outrora importante casa Snow passa por tempos difíceis e o destino dela depende da pequena chance de Coriolanus ser capaz de encantar, enganar e manipular seus colegas estudantes para conseguir mentorar o tributo vencedor. A sorte não está a favor dele. A ele foi dada a tarefa humilhante de mentorar a garota tributo do Distrito 12, o pior dos piores. Os destinos dos dois estão agora interligados – toda escolha que Coriolanus fizer pode significar sucesso ou fracasso, triunfo ou ruína. Na arena, a batalha será mortal. Fora da arena, Coriolanus começa a se apegar a já condenada garota tributo… e deverá pesar a necessidade de seguir as regras e o desejo de sobreviver custe o que custar.

ASSISTA AO RESUMÃO DO LIVRO A CANTIGA DOS PÁSSAROS E DAS SERPENTES (COM SPOILER)

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