Se você curte um drama delicado e recheado de diálogos marcantes, As irmãs Blue, de Coco Mellors, é um mergulho nas complexidades familiares.
Sem spoilers!
Pra quem gosta de narrativas mais introspectivas e centradas no lado humano, As irmãs Blue vai direto ao ponto. É uma história para quem busca uma boa dose de reflexão e um toque de realidade mais crua.
A sinopse já dá uma ideia do tom: “Quatro irmãs. Agora, três… Precisam lidar com a perda e as memórias deixadas pela irmã e retornar para a casa de sua família em Nova York nesta história inesquecível de luto, identidade e complexidades familiares.”
O sobrenome “Blue” além de ser o das protagonistas, também me remeteu a algo melancólico, uma certa tristeza. Azul muitas vezes é associado a isso, mas o livro entrega mais que depressão. É como assistir a uma peça de teatro sobre a vida real. Já começa com tudo, sem enrolação, e o mais interessante: a narrativa é dividida entre as três irmãs, que estão espalhadas pelo mundo.
Temos Avery, a mais irmã velha, que mora em Londres, é advogada e está em recuperação de um vício. Bonnie, uma ex-boxeadora que trabalha como segurança em Los Angeles após passar por uma decepção, e a Lucky, a mais nova, uma modelo vivendo em Paris com uma vida bem intensa. E, claro, temos Nicky, a irmã que morreu repentinamente, mas era o elo que mantinha a família unida.
"Sua vida tinha sido reduzida a dois dias, o dia em que Nicky ainda estava viva e o dia em que ela morreu. A colcha de retalhos vasta e sutil de anos e estações que compunham sua vida tinha desaparecido."
Se você tem irmãos, vai se identificar muito com essa história. Eu, por exemplo, me rendi logo no primeiro parágrafo. A autora começa a história com uma reflexão sobre ter irmãos – é uma abertura tão poderosa que, só por isso, o livro já ganhou 4 estrelas comigo. A escrita é afiada, cheia de nuances, e o livro segue essa linha até o final.
Os diálogos são tão bons que eu, literalmente, me pegava respondendo as personagens. Era como se eu estivesse dentro da cena. As descrições são bem pé no chão, e você consegue visualizar tudo, mesmo que o cenário seja em Nova York. Isso porque, no fim das contas, as dores humanas são universais.
O que mais me impressionou foi como a autora pegou temas que assustam a gente – morte, vício, famílias desajustadas – e fez tudo fluir de forma tão natural entre as irmãs. A vida é cheia de incertezas, e o livro reflete bem isso. Não tem um grande plot twist, mas sim uma grande incógnita, como a vida real.
Aqui vão alguns temas com os quais muita gente vai se identificar:
- A falta de respostas.
- O choque ao perceber que nossos pais também não têm todas as soluções.
- O peso de ser a irmã mais velha… ou a mais nova.
- O sentimento complexo de querer se afastar da família e a culpa que acompanha essa decisão.
- De quem é a responsabilidade quando tudo dá errado?
- Os traumas de infância que, às vezes, parecem impossíveis de superar.
Nesse sentido, talvez ela não fosse tão diferente de um viciado. Não estavam todos procurando alívio para alguma dor invisível? Não eram todos pessoas?
A autora ainda consegue fazer a gente enxergar todos os lados da história através das irmãs. A mãe delas, por exemplo, apesar de ser imperfeita, fez o melhor que podia. Tem momentos em que você pensa: “Não acredito que ela tá fazendo isso!”, mas aí, de repente, vem um outro ponto de vista que faz você entender o porquê.
Tem drogas, tem vícios, tem loucuras, mas tudo é tratado de forma realista e coerente. Todos nós somos viciados em alguma coisa, e isso fica evidente na história. Eu me peguei prendendo a respiração, rindo, chorando. Sabe aqueles diálogos de filme que te deixam sem palavras? O livro tem isso.
No final das contas, As irmãs Blue é uma reflexão sobre as inúmeras incertezas da vida. E, mesmo sendo um livro, ele reflete a realidade de uma forma que quase todo mundo vai se identificar em algum ponto por já ter passado por algo parecido.
Se eu tiver que apontar algo que não curti tanto, foi o epílogo. Nos agradecimentos, a autora até sugere que o final poderia ter sido diferente, e eu meio que preferia que tivesse sido, mas isso não estraga em nada a experiência. Na verdade, acho que acabou sendo um final perfeito pra gente dar um respiro depois de tantas emoções.
As irmãs Blue é sobre a vida real, família, vícios, amor entre irmãs e luto. Tudo isso amarrado por uma escrita direta e, ao mesmo tempo, cheia de sentimento. Eu amei e recomendo!
Se preferir assista o vídeo:
Sinopse:
Quatro irmãs. Agora, três… Precisam lidar com a perda e as memórias deixadas pela irmã e retornar para a casa de sua família em Nova York nesta história inesquecível de luto, identidade e complexidades familiares.
As três irmãs Blue são excepcionais e excepcionalmente diferentes. Avery, a mais velha, uma viciada em recuperação, é uma advogada conservadora e mora com a esposa em Londres. Bonnie, uma ex-boxeadora, trabalha como segurança em Los Angeles após uma derrota devastadora. Lucky, a mais nova, é modelo em Paris, enquanto tenta superar seu jeito festeiro. Por fim, Nicky, cuja morte inesperada deixou Avery, Bonnie e Lucky arrasadas, era, definitivamente, o elo que juntava essa complexa família.
Um ano depois, enquanto cada uma enfrenta a dor da perda, o vício e a ambição, as irmãs voltam a Nova York para impedir a venda do apartamento onde foram criadas. Contudo, voltar para casa nunca é tão fácil quanto parece. À medida que as irmãs enfrentam as decepções de sua infância e a perda da única pessoa que as mantinha unidas, elas percebem que os maiores segredos que guardavam talvez não fossem uma da outra, mas sim delas mesmas.
Construído com a combinação exclusiva de humor e emoção de Coco Mellors, As Irmãs Blue retrata o que é preciso para continuar vivendo depois de uma perda e, por fim, para se apaixonar pela vida novamente.
Ficha técnica:
Título: As irmãs Blue
Título original: Blue Sisters
Autor (a): Coco Mellors
Editora: Astral Cultural
Número de Páginas: 400
Ano de Publicação: 2024
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